Prazer, me chamo Bruno Volski...

Minhas Mãos

Cresci sob constantes estímulos à psicomotricidade fina, movimentando pequenos músculos e aprendendo a controlá-los com precisão. O universo artístico da minha mãe, Tarcila Volski, mergulhada em trabalhos manuais, expôs-me desde cedo a formões, alicates, tesouras, estiletes, espátulas e uma infinidade de instrumentos. Com eles, explorei a transformação de materiais como papéis, couros, madeiras, polímeros, metais, vidros, tecidos e, principalmente, a argila. Este último material, tão simples e ao mesmo tempo tão fascinante, tornou-se meu grande encanto. Afinal, quem nunca brincou de massinha?

Na argila, encontrei a plasticidade perfeita para imprimir ideias e expressar sentimentos. Sua tridimensionalidade, a capacidade de capturar detalhes finos sob o toque instrumentalizado e, ao mesmo tempo, a delicadeza do material, absorveram-me por milhares de horas na infância e adolescência. Minhas mãos tornaram-se uma janela para a alma, moldando não apenas formas, mas também histórias e emoções.

A argila é um material que suporta obras minuciosas, cheias de vida e significado. Isso me lembra um trecho do meu poema predileto, Operário em Construção, de Vinicius de Moraes:

“Ah, homens de pensamento / Não sabereis nunca o quanto / Aquele humilde operário / Soube naquele momento! / Naquela casa vazia / Que ele mesmo levantara / Um mundo novo nascia / De que sequer suspeitava. / O operário emocionado / Olhou sua própria mão / Sua rude mão de operário / De operário em construção / E olhando bem para ela / Teve um segundo a impressão / De que não havia no mundo / Coisa que fosse mais bela.”

Assim como o operário, vejo nas minhas mãos não apenas um instrumento, mas um meio de criar, transformar e construir beleza.

Minha Mente

Meu quintal foi a Universidade Estadual de Maringá, onde minha mãe trabalhava nos setores de histologia e anatomia humana. Desde muito pequeno, esse ambiente tornou-se familiar para mim. Foi ali que realizei meu ensino fundamental e, mais tarde, graduei-me em medicina. Guiado pela curiosidade infantil, percorri diversos departamentos, mergulhando em um universo rico de conhecimentos científicos, filosóficos e artísticos.

Nessas andanças, afeiçoei-me à sociologia, à filosofia e à psicologia, tangenciando de modo eclético as distintas áreas do saber, sempre com um especial apreço pelo humanismo. Além disso, o departamento de anatomia e histologia humana, onde minha mãe dedicava seu trabalho, colocou-me em contato íntimo com o corpo humano, revelando sua complexidade sob as lentes magníficas da ciência.

Na adolescência, vislumbrei a psiquiatria como uma profissão que pudesse integrar as ciências biológicas e humanas, unindo meu fascínio pela mente e pelo comportamento. No entanto, sentia que algo ainda faltava nessa escolha: minhas mãos e a arte. Era como se uma parte essencial de mim, acostumada a criar, moldar e transformar, ainda buscasse seu espaço...

Meu Coração

Guiado por uma profunda reflexão sobre meu destino, direcionei minha escolha para a cirurgia plástica, decisão que se revelou acertada e repleta de realização pessoal. Tenho o raro privilégio de trabalhar com prazer e alegria, contemplando e experienciando cada procedimento com habilidade meticulosa e profunda satisfação. Cada cirurgia é uma oportunidade de conexão com a subjetividade alheia, sempre iluminada pelo farol do humanismo.

Meu contato mais intenso com o humanismo ocorreu quando iniciei trabalhos voluntários no Centro de Valorização da Vida. Essa experiência enriquecedora apresentou-me Carl Ransom Rogers, cujos livros permaneceram em minha cabeceira por anos, tornando-se objeto de estudo e prática contínuos. Uma de suas frases ecoa em mim até hoje: “Ser empático é ver o mundo com os olhos do outro e não ver o nosso mundo refletido nos olhos dele.”

Além disso, durante os seis anos da faculdade de medicina, integrei o grupo de Psicologia Hospitalar, atuando no acolhimento psicológico de pacientes e seus familiares. Essa vivência reforçou minha crença na importância da empatia, do cuidado e da conexão humana no exercício da medicina.

Hoje, como cirurgião plástico, carrego esses valores em cada gesto, unindo técnica, arte e humanismo para transformar vidas e histórias.

Meu Corpo

Cosmopolita por natureza, busquei um lugar que reunisse qualidades essenciais para meu bem-estar: muito sol, praia, uma capital grande, mas acolhedora, de fácil deslocamento e com um ambiente de trabalho cordial. Foi assim que encontrei Aracaju, uma cidade que hoje considero meu lar, e Sergipe, meu estado. Aqui, encontrei não apenas um lugar para viver, mas um espaço para me realizar pessoal e profissionalmente.

Aracaju trouxe-me ainda a oportunidade de aprender a surfar, uma atividade que hoje faz parte da minha rotina de forma salutar e revigorante. Essa experiência, que um dia contarei em detalhes, foi um desafio transformador, especialmente por ter aprendido sozinho, sem nunca antes ter nadado no mar. O surf tornou-se uma metáfora da vida: equilíbrio, persistência e harmonia com as forças da natureza.

Meu Propósito

Promover saúde é a essência da medicina, com ou sem cirurgia. E, se a escolha for pela cirurgia, meu compromisso é compreender profundamente seu desejo e sua necessidade, trabalhando a partir de você para adequar suas expectativas ao que há de melhor na cirurgia plástica. Tudo isso com um toque de harmonia e arte, em um ambiente acolhedor que transmita segurança e aceitação.

Minha prática une a medicina de excelência ao acolhimento da psicologia humanista, criando uma combinação única que valoriza não apenas o resultado físico, mas também o bem-estar emocional e a autoestima. Essa é a medicina em que acredito e a cirurgia plástica que exerço: uma fusão entre técnica, humanismo e arte, dedicada a transformar vidas com respeito, empatia e beleza.

E para quem já avançou no debate político, é importante lembrar que vivemos em um sistema político e econômico repleto de limitações, onde as contradições entre capital e trabalho, assim como entre valor e valor de uso, também refletem na prática médica. Essas dinâmicas influenciam diretamente nosso cotidiano profissional, muitas vezes restringindo nossa capacidade de atuar de forma plena e integral. Por isso, é fundamental estarmos cientes desses desafios e buscarmos, dentro do possível, estratégias para oferecer o melhor cuidado aos pacientes, mesmo diante dessas condições limitantes. A conscientização sobre essas questões nos ajuda a enfrentá-las com mais clareza e responsabilidade bem como entender os estreitos limites que o sistema impõe para uma pratica em saúde plenamente consistente.